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Pois é, a moça disse, com um ar professoral: “se é um encontro político, não contem comigo, eu detesto política!”. O crítico é que a pessoa é uma professora. Estou afirmando então que todo professor deve praticamente obrigar-se a gostar de política? De gostar, claro que não. No entanto não deve ignorá-la. Tem, sim, o dever de analisá-la, de ler, de procurar investigar porque determinadas situações ocorrem desta e não daquela maneira. Não adiantará nada discursar a respeito de cidadania para seu aluno, enquanto afastar-se de toda a atividade que julgue “política”. Ora, todos nos estruturamos dentro de um determinado contexto ideológico.

É claro que durante a vida e suas alteridades circunstanciais podemos alterar nossas visões de mundo, mas as mesmas sempre serão condicionadas por um pensar político. E dentro das sociedades são os pensadores, os intelectuais que, através de seu pensar, influem decisivamente sobre estruturas ideológicas, ou seja, sobre política. Dizer-se alheio à política é entender-se alienado do mundo, porque as ideologias assumem uma função claramente política.

Quem se omite faz política igualmente. E bem mais do que pensa. Faz a política do continuísmo, do desimportar-se com os fatos, com suas nuanças e previsibilidades. Em outras palavras, da reprodução social como está posta. Evidentemente não estou falando de um ativismo irracional, mas de uma posição que marcará o pensamento e o fazer crítico de uma pessoa. Aqui, lembro-me de Paulo Freire, estigmatizado porque ousou dizer que o ato pedagógico é um ato político. Foi devidamente execrado à época, mas disse o que de fato sempre existiu. As leituras sociais do mundo são as leituras ideológicas não só de nossas circunstâncias, mas moldam nossos valores e nossas prioridades. Em tal terreno não há como ser tabula rasa. Contrariamente, a alienação e a omissão políticas nada mais são do que a explicitação da conformidade, do estar socialmente satisfeito com o que está posto.

Há, portanto, um enorme interesse em tais posições que se dizem neutras mas que operam eficazmente em favor de uma extratificação social que privilegia a exclusão, a dependência e a homogeneização cultural. Tal espanta partir de um professor, pois ele se conforma em ser tio ou tia; seu discurso em favor da participação política esvair-se-á dentro da retórica vazia com a qual a injustiça social tem brindado a maioria dos nossos irmãos. Não há pois a opção entre fazer política, entre participar ou não: de qualquer forma, sob qualquer modo, somos seres políticos e nossos comportamentos falam mais por nós do que nós próprios possamos fazê-lo.

Um cálice de vinho à Brecht! HILTON BESNOS